quinta-feira, 22 de maio de 2008

PNEPemCHAVES: Escrevo para mim


Gostei de ler, mais uma vez, o repto que nos lanças. Creio que tens toda a razão. Quantos mais objectivos se puderem atingir, melhor. Este é o meu entendimento. Diversificar o público alvo das comunicações dos nossos alunos é fantástico.
Contudo, sabemos que nem sempre isso é possível.
Mas, também creio que o primeiro e mais importante alvo «sou eu mesmo/a». Em primeiro lugar, creio bem que assim seja, escrevo para mim própria. E, se essa escrita me agrada desperto em mim a vontade de o partilhar com o OUTRO, desde que esse OUTRO/A seja uma pessoa capaz de entender os meus pensamentos, as minhas palavras escritas. Necessito de alguém em quem possa confiar.
E, se já o sabia em estudante, mais se acentuou como profissional.
Vou deixar uma experiência que muito me fez viver isto mesmo.
--Era professora, então. Estava a trabalhar numa dessas aldeias perdida e que hoje é uma das grandes aldeias de Trás-os-Montes. Vivia num grande compartimento de uma casa enorme alugada a uma colega. Era o meu quarto, a minha sala de estar, de jantar, cozinha. Dava para tudo. Vivia, com uma sobrinha muito querida que me acompanhou em toda a sua escoalridade e que ... já partiu... Que Deus lhe dê as alegrias que ela me proporcionou e que eu não pude, decerto, retribuir-lhe, independentemente dos bons momentos que vivemos em conjunto. São muitas as boas experiências vividas, mas nem isso conseguiu evitar o inevitável...
Os dias de aulas eram passados normalmente. Os fins de semana eram passados entre a casa, a igreja/catequese, o convívio com as pessoas da aldeia que tinham que ser comedidos por questões de anterioridade, a leitura de um ou outro livro da Biblioteca Itinerante, Gulbenkian, onde havia essa possibilidade, a renda para o enxoval, as malhas, os bordados. Os dias eram muito longos. As noites nem se fala!
Independentemente desses momentos vivia-se um isolamneto total. Não havia colegas por ali perto e mesmo que houvesse as vias de comunicação que ligavam as aldeias vizinhas, marcadas por um povoamento disperso, eram intransitáveis, a maior parte do ano.
Viva, jovem como era, sentia uma necessidade absoluta de partilhar com alguém essa vida de isolamento terrível, os ideais que não paravam de crescer, as dúvidas educativas. Enfim!...
Então, pegava numa folha de papel e escrevia, escrevia até me cansar. De repente, parava e, com a cara lavada em lágrimas, relia o que tinha escrito. A maior parte das vezes era para a minha irmã que tinha vivido as mesmas angústias ou alegrias. Ou, mesmo, para pessas amigas com quem dividia alguns sonhos. Nessa altura não havia muita abertura para o fazer.
Não demorava muito tempo a rasgar essa folha de papel que hoje me seria, decerto, muito útil para poder comparar os tempos que foram e os tempos que são.
Seria bem uma prova do muito que passou todo esse professorado que calcorreava quilómetros a pé, a cavalo num burrito emprestado, que ia ver a família nas férias de Natal, de Páscoa e Grandes. O resto era vivido em comunidade residencial.
Tudo isto para dizer que, em primeiro lugar aprendi a escrever para mim: a «desabafar» sempre que o coração apertava. Depois de ler e reler, rasgava, para não magoar. Mas ficava aliviada.
Ainda hoje faço isso. Menos vezes, é verdade, mas faço-o, sobretudo quando o diálogo não permite ir mais além.
Creio que é isso mesmo que os nossos alunos têm que aprender, em primeiro lugar; em segundo aprender a depositar no papel o seu sentir, as suas alegrias e tristezas, as suas angústias, ansiedades, desejos. Desventar-se em sentimentos, emoções, saberes, não só na oralidade, mas através da escrita que pode levar muito mais longe o seu próprio ser.
E, de vez em quando podem arranjar-se partilhas festivas: dia do pai, da mãe, do ambiente ... Porque não tentarmos, ainda este ano, com os nossos alunos? É uma questão de pensarmos e, em conjunto, fazermos algo.
Deixo, em registos fotográficos, momentos inesquecíveis que marcaram muito positivamente uma caminhada vivida em ponto pequeno no espaços, mas grande na mensagem organizadas e sentidas, construídas pelos nossos alunos.
Mas há mais, muito mais.
Não sei se deixei alguma luz. Era essa a minha intenção.
De qualquer forma, creio que uma situação não invalida a outra. Ambas se podem enriquecer mutuamente.
Desculpe o atrevimento. Um beijinho, Isaura.

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