sábado, 14 de junho de 2008

Nascidos para aprender


“Os pássaros voam, os peixes nadam; o homem pensa e aprende.” — John Holt, autor e educador.
O cervo recém-nascido é guiado pelo instinto a pôr-se de pé, em suas pernas longas e trémulas, e seguir a mãe. O bebé humano, por outro lado, talvez não ande até completar um ano. Mas os humanos são dotados de um cérebro incrivelmente superior ao de qualquer animal. Essa superioridade reflecte-se na curiosidade insaciável da criança e na empolgação pela descoberta e pelo conhecimento.
A fim de satisfazer essa curiosidade, bebés normais e saudáveis transformam seu mundo numa área de exploração. Se lhes dermos um objecto, eles o estudarão com todos os sentidos, inclusive o paladar. E a experiência não se limita a isso. Como os pais bem sabem, os bebés derrubam, batem, sacodem e quebram as coisas — muitas vezes com grande alegria — no desejo de entender e experimentar o mundo que os rodeia.
A sede de conhecimento torna-se mais evidente quando começam a falar — o que já é por si só uma incrível façanha! Parece que da noite para o dia as crianças se transformam na interrogação em pessoa. Uma enxurrada de perguntas do tipo ‘Por que isso?’, ‘Por que aquilo?’, jorra sem parar de sua boca, a testar a paciência de muitos pais. Elas “adquirem muito de seu aprendizado com grande empolgação e entusiasmo”, disse o autor John Holt.
Alguns anos mais tarde, as crianças começam um novo ciclo de aprendizagem — um mundo de professores, livros, mesas e talvez centenas de outras crianças. Infelizmente, depois de anos na escola, muitos jovens demonstram menos interesse em aprender. Alguns até passam a ver a escola como stressante e enfadonha. Talvez certas matérias ou certos professores não sejam motivadores. Ou ainda, a pressão para tirar boas notas os deixe com ansiedade insuportável.
Se forem adquiridas nesse período, tais atitudes negativas poderão persistir na vida adulta ou mesmo até a velhice. E qual é a consequência triste? Os que desenvolveram esse comportamento evitam tudo que tem a ver com concentração, estudo ou pesquisa. Os idosos têm um obstáculo adicional para vencer — a crença de que a idade avançada automaticamente diminui a capacidade de aprendizagem, ponto de vista esse que é injustificado.
Já tentámos fazer uma criança dormir enquanto algo interessante acontecia? Mesmo cansada, a chorar e até irritada, ela se esforça para ficar desperta e não perder nada. A sua “necessidade de entender o mundo e ser capaz de fazer as coisas é tão profunda e tão forte quanto sua necessidade de comer, de descansar ou de dormir. Às vezes, pode ser ainda mais forte”, escreve o autor John Holt.
O desafio é fazer com que as crianças mantenham o desejo de aprender durante toda a vida, incluindo, é claro, os anos escolares. Este é o nosso ― o dos pais e o dos professores ― grande desafio.


1 comentário:

  1. Sem dúvida que este depoimento vem mesmo a calhar. Esse desafio é-nos lançado a cada momento que passa. Muitas das vezes reagimos tarde demais.
    E é pena!...
    Como educadores temos que estar atentos a todos os momentos que nos dêem essa oportunidade de resposta, se não imediata, pelo menos, a cuto prazo. Deixá-la de lado, à espera do «logo» que nunca chega, poderá vir a trazer-nos «amargos de boca irremediáveis».
    Daí a necessidade de desenvolvermos a nossa capacidade criativa, tornando-a competência, de bebermos os conhecimentos que esses desejosos aprendizes, crianças, ..., adultos, nos transmitem para partirmos em busca da sua complexidade numa realidade aberta à inovação e à mudança.
    Este é o nosso percurso
    É esta a nossa sina
    Sabendo que o Professor
    Aprende mais do que ensina. Obrigada, por esta oportunidade reflexiva. Um abraço, Isaura

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