domingo, 7 de dezembro de 2008

Vidas Profissionais

Na verdade, sempre pautámos a nossa vida profissional de acordo com a vida pessoal que, aos poucos, se ia desenrolando conforme as hipóteses que, , um trabalho honesto permitia avançar na qualidade que lhe imputávamos. Acredite-se que «só o nosso trabalho», um trabalho persistente, confiante nas nossas capacidades, nos guindou ao topo de uma carreira profissional de que muito nos orgulhamos.
 São muitas as histórias de vida profissional que desejaríamos partilhar. Decerto, as histórias de realidades vividas no passado que se repetem neste presente onde a dita «escola» se encontra em piores condições físicas e humanas.
Lamentamos, profundamente, que assim seja. Creia-se.
Para além dos seis anos de leccionação iniciais, 1961 -- 1967, onde o entusiasmo movido por um sonho de infância, se concretizava em cada dia passado em aldeias recônditas deste País ignorado, mas que eram, no entanto,  espaços geográficos altamente saudáveis em relações humanas calorosas, há todo um percurso que, cremos, valer a pena relatar.
Com o tempo iremos poder renovar esse deambular que nos trouxe momentos de encontro em verdadeiras comunidades educativas de base.
Quão diferentes dos tempos actuais! Nada têm a ver, na sua generalidade. Porém, muito têm a ver na sua particularidade: a nossa actuação mantém-se, ainda que adequadas aos tempos presentes. Nem poderia ser de outra maneira...
Apenas dóem as injustiças. E elas são reais, verdadeiras. E, se nos situarmos nos tempos que decorrem, hoje, dóem muito mais. A longevidade da caminhada, a mudança democrática que se desejava e se esperava, o reconhecimento devido a quem se tem votado à causa educativa, sem reservas, seja de que tipo for, a necessidade de construção de uma escola diferente: mais humana, mais altruista, mais sabedora, mais competente, mais atenta às mudanças sociais que se operaram, ... são, ou deveriam ser, razões mais que suficientes para que «as coisas» fossem bem diferentes.
Aqui deixamos uma passagem que nos levará, decerto, a constatar o que vamos tentando dizer de forma positiva. Não deixamos de defender que se 'educa pela positiva', tendo como pano de fundo o optimismo que nos caracteriza:
"Estávamos, então, no ano de 1968, numa das nossas Províncias Ultramarinas. Tínha-nos sido distribuída uma  4.ª Classe com 32 alunos de várias etnias e estratos sócio-económicos e culturais, como será bom de ver. Desde o dia 10 de Setembro, dia em que se iniciavam as nossas actividades lectivas, até  ao dia 30 do mesmo mês, fomos ganhando confiança, afectividade, empatia, sentimentos que se iam misturando e facilitando a longa caminhada cognitiva a construir. Só que, de um momento para o outro, tudo mudou, E, na presença do Senhor Inspector Distrital, a 4.ª classe passa para uma professora, 'mulher de tropa', enquanto que nos era atribuída uma 1.ª classe de 34 alunos e alunas com características idênticas.
Escusado será dizer que esgrimimos todos os argumentos que nos pareciam ter a lógica pedagógica, psicológica, sociológica para provar que não estava certo tal procedimento. Nada houve que conseguisse demover os 'detentores do poder' de então. Nem as lágrimas que não conseguimos reter. Só que o tempo não pára e 'a verdade vem sempre ao de cima'.  Só que, enquanto essa verdade vem e não vem, o sofrimento causado não se consegue suprir. Já em Maio, a senhora professora acompanha o regresso do marido à Metrópole. De novo o Senhor  Inspector é chamado a resolver a situação. Aí, não havia remédio. Só então se reconheceu a injustiça praticada, porque a 4.ª Classe, ficava sem professora. De entre as hipóteses eventadas surgia a de 'acumulação' de serviço. Solucionada a situação ouvimos da boca da Entidade Superiora: -- Jamais esquecerei as lágrimas que vi chorar à senhora professora que, agora, tem a ombridade de remediar a situação gerada por uma injustiça sem desculpa. Aí, na mais completa mudez, as palavras não nos saíam, apenas respodemos à afronta com um sorriso irónico, de pura ignorância por um 'poder' que o não sabe ser, que o não sabe gerir, que o não sabe usar"...
A História repete-se, sem dor nem piedade, como iremos constatando em futuros encontros de blogueiros que desejem desmistificar, pondo a nu, esse 'poder' que o não sabe ser...
Hoje não há registo icónico. A imagem criada fica com cada qual, à sua maneira.
Voltaremos, se Deus quiser. Até lá, um abraço, Isaura.  

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